quinta-feira, 31 de março de 2011

Texto dinamizado em sala de aula

Palavras e idéias

Há alguns anos, o Dr. Johnson O’Connor, do Laboratório de Engenharia Humana, de Boston, e do Instituto de Tecnologia, de Hoboken, Nova Jersey, submeteu a um teste de vocabulário cem alunos de um curso de formação de dirigentes de empresas industriais (industrial executives), os executivos. Cinco anos mais tarde, verificou que os dez por cento que haviam revelado maior conhecimento ocupavam cargos de direção, ao passo que dos vinte e cinco por cento mais “fracos” nenhum alcançara igual posição.


Isso não prova, entretanto, que, para vencer na vida, basta ter um bom vocabulário; outras qualidades se fazem, evidentemente, necessárias. Mas parece não restar dúvida de que, dispondo de palavras suficientes e adequadas à expressão do pensamento de maneira clara, fiel e precisa, estamos em melhores condições de assimilar conceitos, de refletir, de escolher, de julgar, do que outros cujo acervo léxico seja insuficiente ou
medíocre para a tarefa vital da comunicação.

Pensamento e expressão são interdependentes, tanto é certo que as palavras são o revestimento das idéias e que, sem elas, é praticamente impossível pensar. Como pensar que “amanhã tenho uma aula às 8 horas”, se não prefiguro mentalmente essa atividade por meio dessas ou de outras palavras equivalentes? Não se pensa in vacuo. A própria clareza das idéias (se é que as temos sem palavras) está intimamente relacionada com a clareza e a precisão das expressões que as traduzem. As próprias impressões colhidas em contato com o mundo físico, através da experiência sensível, são tanto mais vivas quanto mais capazes de serem traduzidas em palavras – e sem impressões vivas não haverá expressão eficaz. É um círculo vicioso, sem dúvida: “...nossos hábitos lingüísticos afetam e são igualmente afetados pelo nosso comportamento, pelos nossos hábitos físicos e mentais normais, tais como a observação, a percepção, os sentimentos, a emoção, a imaginação”. De forma que um vocabulário escasso e inadequado, incapaz de veicular impressões e concepções, mina o próprio desenvolvimento mental, tolhe a imaginação e o poder criador, limitando a capacidade de observar, compreender e até mesmo de sentir. “Não se diz nenhuma novidade ao afirmar que as palavras, ao mesmo tempo que veiculam o pensamento, lhe condicionam a formação. Há século e meio, Herder já proclamava que um povo não podia ter uma idéia sem que para ela possuísse uma palavra”, testemunha Paulo Rónai em artigo publicado no Diário de Notícias, do Rio de Janeiro, e mais tarde transcrito na 2ª edição de Enriqueça o seu vocabulário (Rio, Civilização Brasileira, 1965), de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira.



Portanto, quanto mais variado e ativo é o vocabulário disponível, tanto mais claro, tanto mais profundo e acurado é o processo mental da reflexão. Reciprocamente, quanto mais escasso e impreciso, tanto mais dependentes estamos do grunhido, do grito ou do gesto, formas rudimentares de comunicação capazes de traduzir apenas expansões instintivas dos primitivos, dos infantes e... dos irracionais.


GARCIA, Othon Moacir. Comunicação em prosa
Moderna. 8. ed. Rio de Janeiro: FGV, 1980. P. 155-6.

Como desenvolver o parágrafo

1. Enumeração ou descrtição de detalhes:
“A emissora carioca pode não entender nada de
democracia, nem de jornalismo, mas é especialista em
manipulação eleitoral. Fez campanha contra o
Movimento Diretas-Já, vendo-se obrigada a aderir na
última hora, quando seus veículos já não podiam circular
sem sofrer hostilidade da população. No desespero de
evitar uma vitória de Leonel Brizola na eleição para
governador do Rio, a Globo já havia se envolvido no
escândalo Proconsult, uma das maiores vergonhas na
história política recente. Mais tarde, praticou a edição
criminosamente deformada do debate entre os
candidatos Collor e Lula, com vistas a eleger o primeiro,
a quem apoio durante toda a campanha.” (Folha de S.Paulo, 22.09.96., p.1-7)

2.Confronto:
“Política e politicalha não se confundem, não se
parecem, não se relacionam uma com a outra. Antes se
negam, se excluem, se repulsam mutuamente. A política
é a arte de gerir o Estado, segundo princípios definidos,
regras morais, leis escritas, ou tradições respeitáveis. A
politicalha é a indústria e o explorar a benefício de
interesses pessoais. Constitui a política uma função, ou
conjunto das funções do organismo nacional; é o
exercício normal das forças de uma nação consciente e
senhora de si mesma. A politicalha, pelo contrarário, é o
envenamento crônico dos povos negligentes e viciosos
pela contaminação de parasitas inexoráveis. A política é
a higiene dos países moralmente sadios. A politicalha, a
malária dos povos de moralidade estragada.” (Rui Barbosa, apud Luís Viana Filho)


3. Analogia e comparação:
"O sol é muitíssimo maior que a Terra, e esta ainda tão quente que é como uma enorme bola incandescente, que inunda espaço em torno com luz e calor. Nós aqui na terra não poderíamos passar muito tempo sem luz e o calor que nos vêm do sol, apesar de sabemos produzir aqui mesmo tanto luz como calor. Realmente podemos acender uma fogueira para obtermos luz e calor. Mas a madeira que usamos veio de arvore, e as plantas não podem vive sem luz. Assim, se temos lenha, é porque a luz do Sol tornou possível o crescimento das florestas."(Camille Flammarion)


4.Citação de exemplos:
“A cidade de Manaus possui lugares muito
bonitos de se visitar. O Teatro Amazonas e a
Praia de Ponta Negra, por exemplo, não devem
deixar de estar no roteiro de visitas. O primeiro,
mais sofisticado, encanta os olhos com sua
beleza rica do período áureo da borracha; o
segundo convida a um passeio informal e possui
uma vista linda do Rio Negro. Quem visita
Manaus não esquece suas belezas”( Yeda Several. Viajando pelo Brasil.)


5.Causação e motivação:
a) Razões e cosequências
Esta cidade já não é mais a capital oficial do pais, mas continua sendo a capital do povo brasileiro, quer queiram, quer não (tópico frasal). É a capital política, embora as Câmaras (alta e baixa) estejam em Brasília, de onde nos vêm, diluídos distantes, amortecidos e mudados, os ecos das agitações parlamentares. Aqui funcionou o Brasil: aqui encontrou a sua síntese, o seu centro de gravidade, esse complexo que é nosso país unificado e integro (...) ( Augusto Frederico Schmidt)


b)Causa e efeito
Cinco ações ou concursos diferentes cooperam para o resultado final (a abolição da escravatura): 1º, a ação motora dos espíritos que criavam a opinião pela idéia, pela palavra, pelo sentimento, e que a faziam valer por meio do parlamento, da imprensa, do ensino superior, do púlpito, dos tribunais: 2º, a ação coercitiva do que se propunham a destruir materialmente o formidável aparelho da escravidão, arrebatando os escravos ao poder dos senhores; 3º, a aço complementar dos próprios proprietários (..) ; 4º, a ação política dos estadistas (...); 5º, a ação dinástica. 


6.Divisão e explanação de idéias "em cadeia":
De varias espécies são as condições susceptíveis de influir sobre a literatura. Podemos mencionar quatro ordens principais de condições desse gênero, geográficas, biológicas, psicológicas e sociológicas.
Os fatores sociológicos, enfim, influem de modo inequívoco sobre o movimento e as instituições literárias (tópico frasal desse parágrafo). Foi Bonald, creio, o primeiro sociólogo a chamar formalmente a atenção sobre esse aspecto da literatura como “expressão da sociedade” (...)

Esses fatores sociólogos, em sua dupla modalidade, são de quatro tipos principais: históricos, culturais políticos e econômico.



 


7. Defenição: 
Na verdade, o mártirio não despreza a vida. Ao contrario, valoriza-a de tal modo que a torna digna de ser oferecida a um Deus. Martírio é oblação, oferecimento, dádiva; suicídio é subtração e recusa. O mártirio é testemunha de cristo; o suicida será testemunha de judas.( Gustavo Corção) 

Outros modos de iniciar o parágrafo

1. Por Alusão histórica:
“Conta-se que Boabdil, último rei mouro de
Granada, vencido pelos cristãos, ao lançar um olhar
de despedida à bela cidade andaluza, do alto de
uma das colinas que a circundam, não se conteve e
chorou. Sua mãe, que o acompanhava, em vez de
reconfortá-lo, teria, ao contrário, dirigido ao príncipe
estas palavras cruéis: ‘Chora, meu filho, como
mulher, a cidade que não soubeste defender como
homem (...)” (Jefferson Peres, A Crítica, 06.12.87.)
2.Por Omissão de dados indentificadores:
“Vai chegar dentro de poucos dias. Grande e
boticelesca figura, mas passará despercebida.
Não terá fotógrafos à espera no Galeão.
Ninguém, por mais afoito que seja, saberá
prestar-lhe essa homenagem epitelial e difusa,
que tanto assustou Ava Gardner. Estará um
pouco por toda parte, e não estará em lugar
nenhum. (...)” (Carlos Drummond de Andrade,
Fala Amendoeira, p. 121)


 
3.Interrogação:
“Que é Gramática Normativa? É a própria
Gramática Descritiva, utilizada com intenção
didática, com a finalidade de corrigir os desvios
da língua-padrão, ou melhor, as influências, na
língua-padrão, das linguagens locais e das
diversas formas de linguagem coloquial. (...)”
(Gladstone C. de Melo, Gramática Fundamental
da Língua Portuguesa, p.11)

Diferentes feições do tópico frasal

1. Por Declaração inicial:

“O desprestígio da classe política e o desinteresse do eleitorado pelas eleições
proporcionais são muitos fortes. As eleições para os postos executivos é que constituem o
grande momento de mobilização do eleitorado. É o momento em que o povão se vinga,
aprovando alguns candidatos e rejeitando outros. Os deputados, na sua grande maioria,
pertencem à classe A. É com os membros dessa classe que os parlamentares mantêm
relações sociais, comerciais, familiares. É dessa classe com a qual mantêm maiores vínculos,
que sofrem as maiores pressões. Desse modo, nas condições concretas das disputas eleitorais
em nosso país, se o parlamentarismo não elimina inteiramente a influência das classes D e E
no jogo político, certamente atua no sentido de reduzi-la.” (Leôncio M. Rodrigues)


2. Por Definição:
“É muito comum ler matérias e comentários sobre os analfabetos digitais, pessoas cuja distância do mundo digital garante a mesma falta de futuro reservada aos que não sabem ler e escrever. Não discordo do tema, mas ao trocar milhares de e-mails com usuários de um site que mantenho, descobri que existe um outro tipo de analfabeto digital, o que sabe ler e entende de computador, mas não passaria em um exame de escrita da primeira série.”( CAVALLINI, Ricardo.)



3.Por Divisão:
“Predominam ainda no Brasil duas convicções errôneas sobre o problema da exclusão social: a de que ela deve ser enfrentada apenas pelo poder público e a de que sua superação envolve muitos recursos e esforços extraordinários. Experiências relatadas nesta Folha mostram que o combate à marginalidade social em Nova York vem contando com intensivos esforços do poder público e ampla participação da iniciativa privada.” (Folha de S.Paulo, 17 dez. 1996.)